terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Aplausos à vida


A Ladeira do Pelourinho em Salvador, Bahia, Brasil é muito conhecida no mundo inteiro, quantas vezes subi e desci. E numa delas, acabei conhecendo um “louco” chamado Anderson, ele era muito “louco”, e nos demos muito bem, foi a minha primeira amizade gay nessa cidade e éramos como irmãos, saiamos juntos na noite, íamos paquerar... Até vender incenso na praia eu fui com essa criatura! Conversa vai, conversa vem, contei pra ele que eu estava desempregado e faria qualquer coisa para ganhar um pouco de dinheiro para comer e pagar meu aluguel. Ele, então, me perguntou: você gostaria de trabalhar como voluntario? Eu nem sabia o que significava direito, nem para quê era o trabalho, mas disse que sim. Muito alegre com a minha decisão, ele disse: amanhã às 09:00 h da manhã te encontrarei e te levarei a uma ONG, marcamos nos Barris, uma zona central de Salvador, encontrei o Anderson e ele me levou ao GAPA-BA, que era uma organização não-governamental que trabalhava com pessoas portadores do HIV/AIDS e realizava trabalhos de prevenção para gays, travestis, transexuais, prostitutas e garotos de programa, dentre outros projetos destinados à comunidade em geral. Quando eu vi aquilo, eu fiquei muito animado com a idéia de ajudar outras pessoas e ainda teria tempo para fazer o que mais gosto, dança, teatro e ir à praia a paquerar...

Então preenchi uma ficha, fiz uma entrevista e esperei uma semana por que necessitava fazer um curso de educador social. Fiz o curso, mas por um bom tempo fiquei trabalhando na Biblioteca do GAPA-BA. Eu estava satisfeito, estava iniciando uma nova etapa! Bem, comecei a trabalhar ali e conheci tanta gente que não pensava, e estava trabalhando com meu público, o público gay, enquanto isso tentava minha vida de bailarino e fazia aulas de dança. No GAPA-BA, fiquei muito conhecido e convidado para sair, eu não perdia um partido alto no Pelourinho, uma espécie de pagode mais civilizado. Além disso, realizava algumas pesquisas para empresas como Vox Popoli, Data Folha e para a Revista Veja e tudo aquilo já estava me cansando porque eu queria mesmo era dançar e trabalhar como modelo, e mais uma vez tive que me mudar de casa e fui para casa de uma amiga que se chamava Djane. Depois de um tempo de trabalho voluntário, fui chamado para trabalhar num um novo projeto social nessa mesma ONG, para trabalhar de dia e na noite como educador social e distribuindo preservativos para profissionais do sexo nos lugares de encontro sexual como bares, cinemas etc. Era muito interessante este Projeto que se chamava AIDS e Cidadania Sexual, pois tinha um impacto muito positivo na saúde e na auto-estima do público. Trabalhando ali também consegui indicar alguns de meus amigos como Joedson e Robson para realizar o mesmo trabalho de educador social. Nesse mesmo projeto, conheci Débora Paiva, educadora social, além disso, uma pessoa maravilhosa e misteriosa, ela era travesti. Pedi a ela, que me alugasse um quarto na sua casa, a nossa convivência sempre foi muito tranqüila: cada um vivia sua vida e estávamos felizes. Apesar de amar meu trabalho no GAPA-BA, pois conhecia muita gente, fazia amigos, tinha um trabalho social e podia contribuir para mudar a realidade do meu país, eu queria mesmo era a minha carreira artística.

Mesmo sem um conto furado no bolso, eu continuei na Escola de Dança da FUNCEB, e não podia ouvir um batuque que já estava dançando. Muitas vezes entrei no meu curso de teatro escondido, por que estava devendo e sempre que a secretaria ia ver quem estava em classe, eu me escondia no banheiro. Não acabei meu curso por falta de dinheiro, eu aproveitava tudo que era grátis, o curso que não cobrava eu fazia... Lembro que dancei muito na Praça do Reggae com as classes de dança africana da Sílvia Rita, fazia curso à noite no “Viver com Arte” com a Roquidelia Santos etc. Minha vida estava uma loucura, comecei também a participar das audições, que era uma loucura, muitas das vezes queria fazer inscrição para audição e não tinha nem um centavo para ligar e marcar meu teste.

Gente, que vida dura eu passava! Mas nem tudo era miséria! A resposta para os meus esforços vinham através dos espetáculos que eu fazia grátis, os aplausos que eu recebia e depois que conheci o Pelourinho minha vida deu uma volta de 90 graus, tudo estava se encaixando, porém queria mais, não queria viver uma vida qualquer, sempre gostei de glamour e fui estudar inglês para poder me comunicar melhor com as pessoas que eu conhecia no Pelourinho, um lugar realmente global. E continuava meu trabalho no GAPA-BA na missão de diminuir o impacto da epidemia do HIV/AIDS no Brasil...

Essas e outras histórias você encontrará no Livro "Gay, Negro e Imigrante" de Kor Alessandro

3 comentários:

  1. ALESSANDRO DE DEUS ! POR ONDE VOCÊ ANDA MENINO? VOCÊ LEMBRA DE WELLINGTON DO PROJETO VIVER COM ARTE? POIS É, SOU EU. QUANTO TEMPO MENINO. O QUE TEM EFEITO ? FIQEUI MUITO EMOCIONADO COM TODO ESTE RELATO. MENINO DE DEUS ! ME VEIO LOGO NA LEMBRANÇA QUANDO VOCÊ GRITAVA BRINCANDO DIZENDO QUE SERIA RICO. VEJO QUE VOCÊ NAQUELA ÉPOCA JÁ ERA MILIONÁRIO, POIS, SUA PERSEVERANÇA E FÉ TE CONCUZIU SEMPRE E NÃO TE FEZ DESISTIR NUNCA. VOCÊ TEM ORKU OU MSN? MANDE UM E-AMAIL PARA PODERMOS MANTER CONTATO SEMPRE. MEU E-MAIL: WTRINDADES1@GMAIL.COM. MSN: EBANOBLACK@HOTMAIL.COM.
    VOCÊ ME ACHA PELO ORKUT ATRAVÉS DESTE E-MAIL: MUITADANCA@GMAIL.COM. AGUARDO. UM FORTE ABRAÇO E MUITAS SAUDADES.

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  2. Este texto esta super maravilhoso. Se todos soubesse o que Kor Alessandro passou,deveria se espelhar em sua força, esperança, peseverança e amor, pela vida, arte, amigos e familia.

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  3. Gostei do seu blog, e ler seus textos me deixou com vontade de ler o livro! É bom ter conhecimento de pessoas do guetto, cm vc q venceram na vida! Abraços!!

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